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Reprodução de Polypterus endlicheri

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André Fonseca
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Reprodução de Polypterus endlicheri

#1 Mensagem por André Fonseca »

Reprodução de Polypterus endlicheri

Hiroshi Azuma

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Polypterus endlicheri, macho adulto

Há muito tempo eu me interesso pelos assim chamados “peixes primitivos”. Assim como a reprodução de muitas espécies de peixes consideradas difíceis ao longo dos anos. Dedico parte do meu tempo no estudo e reprodução de peixes como Aruanãs e Peixes Pulmonados, mas dentre meus favoritos estão os Bichirs, peixes do gênero Polypterus.

Já consegui sucesso na reprodução do P. ornapitinnis e há algum tempo tenho estudado P. endlicheri, uma espécie centro-africana que atinge grande tamanho. Paciência é realmente o segredo em trabalhar com qualquer peixe primitivo, por que a maioria deles tem um crescimento lento, vivem muitos anos e levam alguns anos para atingir a maturidade sexual. Eu comecei a trabalhar com P. endlicheri em 1986 e demorei cerca de oito anos para conseguir sucesso completo!

Informações sobre o P. endlicheri

Os Bichirs pertencem í uma pequena família de peixes dulcícolas, Polypteridae, que possui apenas dois gêneros viventes: Polypterus (Bichirs) e Herpetoichthys (Rope Fish ou peixe corda). Todos os representantes possuem corpo alongado e cilíndrico, com cabeças parecidas com as de uma cobra, narinas tentaculares e são dotados de uma armadura de escamas ganóides. A nadadeira dorsal é dividida em vários pedaços, cada um formado por um espinho rígido e uma membrana própria, as demais nadadeiras são flexíveis.

Os Bichirs dividem com muitos outros peixes primitivos a capacidade de aproveitar ar diretamente da atmosfera. Sua bexiga natatória possui dois compartimentos, o direito maior que o esquerdo, que se liga ao esôfago e absorvem o oxigênio do ar que captam da superfície. Se não são pulmões verdadeiros (*como o dos dipnóicos) chega muito perto.

Polypterus são peixes que habitam as margens de rios, lagos e pântanos e são predadores de peixes menores, mas eventualmente também anfíbios, insetos e crustáceos.

Os Bichirs reproduzem durante a época das chuvas, de Julho í Setembro. Quando se tem acesso há alguns espécimes, por comparação o dismorfismo sexual é fácil. Os machos possuem nadadeiras anais maiores. Os ovos são depositados em plantas, “colados” pelo pai utilizando uma secreção produzida por glândulas especiais que se degrada facilmente, assim que as larvas começam a nadar.

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Dimorfismo sexual de P. endlicheri

As larvas possuem grandes brânquias externas, muito semelhantes ís larvas e formas neotênicas das salamandras (* a axolote é uma salamandra neotênica, ou seja, apesar de amadurecer o organismo a ponto de reproduzir, nunca deixa seu formato larval).

Essas brânquias são completamente absorvidas pelo organismo do peixe, não restando vestígio sequer em exemplares adultos.

P. endlicheri é bem distribuído na África Central, tendendo a habitar os afluentes dos grandes rios e lagos, como o Nilo Branco, o Rio Volta, o Rio Niger e o Lago Chad. Cresce até cerca de 63cm (25”).

Sua coloração malhada é muito similar í do P. delhezi e suas diferenciação é feita pela contagem raios da nadadeira dorsal e de escamas (P. endlicheri possui 9 a 16 raios na nadadeira dorsal e 50 a 58 linhas de escamas longitudinalmente).
Sua coloração é cinza ou cinza esverdeado, com de 4 a 6 faixas regularmente espaçadas.

O Começo

Minha odisséia com P. endlicheri começou em Dezembro de 1986 quando recebi sete espécimes . Eles passaram por muitas mãos desde as do coletor africano. Foram para um distribuidor/exportador ainda na África, daí para uma distribuidora alemã, daí para uma distribuidora Japonesa que, enfim, os vendeu a mim. Eram espécimes muito jovens, com cerca de 20cm (8”), não mais que um ano de vida.

A partir daí não tenho a dizer por um bom período de tempo. Os peixes foram mantidos num tanque com 150x60x60cm (60”x24”x24”), com 570 litros (150 galões), a uma temperatura de 26ºC a 29ºC (79ºF a 84ºF), o PH era 4,8 a 6,0 e a dureza 5 a 7 dGH. Fazia trocas parciais de 50% do volume total do aquário mensalmente. Eram alimentados com blood worms vivas ou congeladas, krill congelado e desidratado e peixinhos vivos, geralmente Kinguios.

Todos os Bichirs adoram peixes vivos, mas tenho notado sua grande adaptabilidade e oportunismo em aceitar alimento seco e congelado, assim como ração peletizada.

Essa foi nossa rotina de dezembro de 86 até abril de 92, exceto pelo fato dos peixes terem atingido seu tamanho adulto e tiveram que ser transferidos para um tanque maior, de 180x60x60cm (72”x24”x24”) mas apenas parcialmente cheio, pouco mais que a metade.

A Corte

Foi em Abril de 1992 que percebi que algo estava acontecendo. Uma das fêmeas começou a desenvolver um volume anormal no abdômen. A esta altura os machos não perderam tempo com as outras fêmeas. Um deles começou a encostar-se í fêmea com a nadadeira anal e gradualmente encostavam toda a porção posterior de seus corpos, ís vezes davam suaves mordidas na cabeça da fêmea, mas ao contrário do que possa parecer, seus gestos eram muito gentis. Comportamento similar ao que observara em P. ornapininnis.

A Primeira Desova

Durante três dias, de 13 a 15 de Junho de 1992, meus peixes desovaram pela primeira vez. O casal consistia em um macho de 48cm (19”) e uma fêmea de 53cm (21”) que conviviam juntos por um longo tempo. Eles guardaram certa distância dos demais.Como mencionei, o macho possui a nadadeira anal muito maior que a da fêmea, mesmo com a diferença de tamanho, era fácil reconhecê-lo.

A desova leva um bom tempo, durou das 9 da manhã ís 7 da noite, durante cerca de três dias, centenas de ovos foram postos, mas por infortúnio nenhum deles foi fecundado. Seria o macho ainda muito jovem?

As condições do tanque de reprodução eram ótimas: Temperatura de 28ºC (82ºF), PH 5,8 a 6,0, dureza de 5,0 dGH. Presumindo que os parâmetros da água não eram problema, tive que assumir a possibilidade lógica de que o macho não estava pronto.

A Segunda Desova

Durante quase dois anos eles não apresentaram nenhuma atividade de reprodução. Nesse período as condições ficaram estáveis, e só houve algumas pequenas mudanças, algumas feitas por mim, outras feitas pela “providência divina”: Coloquei uma ilha plástica flutuante em meu aquário, com plantas aquáticas e emersas. Em outras palavras, transformei meu aquário numa espécie de paludário. Ainda tinha um pouco mais de filtragem e aeração, usei dois filtros tipo Canister grandes, uma pedra porosa e um grande filtro interno. A água tinha uma suave correnteza e estava bem oxigenada. Finalmente, a temperatura ambiente estava mais alta naquele verão de 1994...

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Em 16 e 17 de Agosto de 94 houve nova desova, A temperatura aumentou de 28ºC para 29ºC (82ºF para 84ºF), o PH eram ainda os mesmos 5,8 a 6,0, mas a dureza caiu de 5 para 3dGH (condutividade de 230 a 280 microSiemens) O tanque estava plantado com feto de Java (Microsorum pteropus), tinha rochas e troncos, iluminados por duas lâmpadas de 40Watts 12 horas por dia. O tanque também recebia alguma luz natural de uma janela próxima.

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A corte

A corte correu como da vez anterior, mas desta vez, os ovos foram colocados dentro de uma espécie da marsúpio (bolsa) formada pela grande nadadeira anal do macho curvada, que penso ser uma adaptação para garantir a fertilização dos ovos. Cada desova demorava em torno de 3 a 5 segundos e eram postos de 3 a 8 ovos. Os peixes paravam por um breve momento, depois retomavam a ação.

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Como da primeira vez, a desova se entendeu das 9 da manhã ís 7 da noite, mas desta vez durou apenas dois dias. No primeiro dia foram colocados cerca de 300 a 500 ovos, no segundo, apenas cerca de 150.

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Ovo recém fecundado

Os ovos tinham cerca de 2,5 a 2,8mm de diâmetro, marrom amarelados, e foram depositados em plantas, pedras e troncos delicadamente pelo macho. Rapidamente movi quantos ovos pude achar para um tanque de observação, com a mesma temperatura do tanque de desova, PH em torno de 7,0 e 4gDH.

(OBS: O autor não explica o porquê, se é que há um, dessa mudança drástica de PH entre o aquário de desova e o aquário de observação/eclosão. Apenas menciona esta discrepância.)

Depois de cerca de 58 a 70 horas da fertilização, os ovos eclodiram. Uma parte considerável dos ovos não havia sido fertilizada, mas obtive uma quantidade razoável de larvas. O grande par de brânquias externas já era visível. Cerca de três dias depois, tendo as larvas já absorvido completamente o saco vitelino, começaram a nadar livremente. As larvas estavam com cerca de 9mm (0,36”).

Aceitaram náuplios de artêmia. Depois de 6 dias, ofereci-lhes tubifex picado. As larvas já estavam com cerca de 1,5cm (0,6”) e suas brânquias externas estavam enormes.

Algo desconcertante começou a acontecer a partir daí: Os então alevinos desenvolveram um fortíssimo instinto canibal. Uns comiam aos outros sempre que era possível, mesmo que parcialmente. Os alevinos começaram a desenvolver fungos (Saprolegnia sp.) ou infestações de protozoários e morriam! Fiquei apavorado com a possibilidade de perder toda a cria que tanto havia trabalhado para conseguir!

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Espécime de 40 dias comendo um de seus irmãos

Optei por duas estratégias: Primeiro separei o maior e mais robusto espécime num aquário menor exclusivo, pelo menos teria um í salvo. Depois transferi os demais alevinos para um grande tanque completamente plantado com Glossostima e Fontinalis, esperando que por haver mais possibilidades de esconderijos a agressão diminuísse.

Alguns ainda eram predados pelos irmãos, mas poucos, e esse comportamento diminuiu muito depois de 30 a 45 dias da eclosão, quando atingiam já seus 2,8 a 6,5cm (1,1” a 2,6”).

Continuaram crescendo e, com a idade de 70 dias já tinham em média seus 10cm (4”), quando começaram a comer blood worms, tubifex e pequenos peixes.

Com seis meses atingiram cerca de 14cm (5,6”), aos 10 meses 15 a 20cm (6” a 8”), já comendo de tudo: Kinguios, camarões e pitus, grilos, minhocas, blood Worms e Krill, seco e congelado, além de ração peletizada feita em casa.

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Concluindo

Faz cerca de 10 anos desde que comecei a trabalhar com o P. endlicheri (*Hiroshi Azuma começou em 1986, esta reportagem foi publicada na revista Tropical Fish Hobbist em Outubro de 1995) e estou bastante feliz com os resultados obtidos com essa exótica espécie de peixe primitivo.

Espero poder incentivar outros aquaristas a se aventurar, não apenas com Bichirs, mas outros peixes primitivos. É necessário um grande tanque, muitos anos de dedicação e convivência, por que não há truques na reprodução desses peixes, é mera questão de tempo... e paciência!

Por Hiroshi Azuma
Fotos: Hiroshi Azuma
Ilustrações de J.R. Quinn
Tradução: Alexandre Avari


Artigo originalmente publicado na revista Tropical Fish Hobbist, edição n.º 476 de Outubro de 1995.

Sou doido pra tentar isso!!!

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Re: Reprodução de Polypterus endlicheri

#2 Mensagem por Matias Gomes »

esse peixe é lindo icon-aplauder icon-aplauder
procurando uma loja? mapa das lojas de aquariofilia

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André Fonseca
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Re: Reprodução de Polypterus endlicheri

#3 Mensagem por André Fonseca »

Em 2011 tava querendo tentar a reprodução, mas não tinha o aqua ainda...

Agora em 2014 já montei o aqua para eles e consegui identificar os espécimes, formando um casal!!!

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Agora é só esperar crescerem e tentar salvar os alevinos...

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Re: Reprodução de Polypterus endlicheri

#4 Mensagem por Vinicius F. Reis »

dragao de komodo ? icon_assobiando

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Re: Reprodução de Polypterus endlicheri

#5 Mensagem por Humberto Jr. »

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Ai sim Dreka!

Se começar a ter sucesso me avisa! To com bastante cisto de artêmia e enriquecedor aqui!
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Re: Reprodução de Polypterus endlicheri

#6 Mensagem por André Fonseca »

Vinny,

Vc viu o aqua do quarto do bebê, né?

Os bichos andando no substrato parece um lagarto mesmo...

Beto,

Quando nascerem, e vão nascer pq consegui confirmar que são um casal ontem com a ajuda de uma criadeira e uma pinça, vou pegar as artêmias e o enriquecedor. Aliás, aquela outra remessa do enriquecedor que vc tinha deixado aqui já foi...
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Re: Reprodução de Polypterus endlicheri

#7 Mensagem por Humberto Jr. »

Sefor na Palestra em Limeira avisa que mando um pouco... :-)
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Re: Reprodução de Polypterus endlicheri

#8 Mensagem por André Fonseca »

Vontade não falta, mas...
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