Tive uma árdua batalha com dinoflagelados. Durante a mesma, realizei intensa pesquisa bibliográfica e em fóruns e acredito que o conjunto de conhecimentos atuais está muito avançado em relação aos tópicos prévios.
Além da minha experiência com os mesmos, ajudei vários amigos aquaristas a combate-los e no momento estamos obtendo êxito, algo que não era tão comum no passado (essa é a boa notícia). Quais dinos tive? Amphidinium e Ostreopsis! Dois capetas
Vou tentar discorrer aqui sobre minha experiência com essas pestes com objetivo de ajudar o máximo de pessoas a enfrentar este árduo problema que muitas vezes leva alguns ao desmonte. Vou tentar discorrer em tópicos, uma vez que cada um pode ser debatido separadamente.
Quem são os dinoflagelados?
São seres unicelulares, protistas, que fazem parte do fitoplâncton. Existem os dinoflagelados bonzinhos e que amamos - as zooxantelas, graças às quais podemos ter nossos corais "fotossintéticos", na realidade que é fotossintéticos são esses seres que fazem simbiose com nossos corais e habitam o interior de seus pólipos (por isso ocorre a morte daqueles corais que expulsam todos em choque de luz, eles não tem a capacidade de recuperá-los se houver perda completa).
Mas... existe os dinos maus. Muito maus. Estamos falando dos seres que habitualmente chamamos de algas marrons. Aqui cabe a ressalva, na maioria das ocasiões em que alguém encontra alga marrom na realidade está vendo diatomáceas ou algas verdes (que podem ser bem marrons).
Como sei que tenho dinoflagelados? Cheque abaixo a seção condições predisponentes ao crescimento de dinos e verifique se parece com seu caso.
Esses "dinos maus" (doravante dinos - não vou me referir mais aos simbiotes) também são os causadores das marés vermelhas, que causam grandes matanças de animais e terríveis problemas ambientais.
Os dinos maus podem ser autotróficos ou heterotróficos e algumas espécies são mais adaptadas para uma função ou outra. Quero dizer: vivem de luz ou vivem de nutrientes, o que estiver disponível eles usam a seu favor.
E o pior de tudo: eles secretam toxinas, muito potentes, aparentadas das palitoxinas. Como exemplo, a principal toxina do Ostreopsis é a ovatoxina, mas ele mesmo também secreta outras como mascarenotoxina. Essa toxina pode matar seus animais, especialmente os que a consumirem, por isso é uma péssima ideia acrescentar equipe de limpeza (pois todos vão morrer), e até mesmo os peixes correm perigo, especialmente os que adoram o substrato (wrasses quando vão dormir p ex) ou as algas (tangs podem confundir o dino com algas verdes e resolver provar - eu infelizmente já perdi um hepatus por isso). Algum tratamento para os peixes nessa condição? Tem não.
Por que os dinoflagelados apareceram?
Encontrei ao menos um dinoflagelado em quase todas amostras de aquário que analisei até hoje, o que mostra que não é necessariamente um ser que estará ausente dos aquários saudáveis. O problema é quando ele começa a dominar e se torna o microorganismo dominante, aí parece uma horda de zumbis.
Geralmente os dinos ganham espaço nos aquários mais novos (refiro-me aos aquários em maturação, com menos de um ano ativos). Isso ocorre pela escassa microvida competidora ao redor.
E por que os dinos? O quadro mais comum é o aquário com baixíssimos nutrientes (geralmente fosfato e nitrato zerados por longo período). Isso muitas vezes tem ocorrido pelos sistemas de exportação cada vez mais eficientes (bons skimmers superdimensionados, reatores de algas, refúgios com macroalgas etc).
Você passa alguns meses achando que seu aquário está lindo, com substrato limpíssimo, rochas limpas (muitas vezes algas calcáreas já começando a aparecer) e é surpreendido por algas marrons que vão inundando o substrato e a superfície dos corais e produzindo umas bolhinhas horrorosas, cada vez mais frequentes, você sifona tudo e algumas horas depois já os encontra novamente.
OBSERVAÇÃO PARA OS NOVOS NO HOBBY: não confundam esses dinos com a fase de algas marros que aparecem após a ciclagem do aquário e vão embora sozinhas - essas são as diatomáceas e não necessitam de nenhuma atitude do aquarista.
É necessário tomar medidas contra os dinoflagelados?
Minha opinião imediata é: SIM, medidas drásticas. Exceção à regra seria o caso de pessoas que acompanham o substrato dos aquários por microscopia e identificam um ou outro dino (pois isso pode ser normal, parte da maturação do reef).
Que medidas tomar?
Minha recomendação mais forte é: IDENTIFIQUE SUA ESPÉCIE (quando digo espécie na verdade refiro-me ao gênero). Isso parece muito difícil mas não é.
Os testes (do café, da água oxigenada) servem para diferenciar dinos de outras algas, mas não servem para diferenciar os diferentes dinos.
As próximas medidas que vou relatar são bastante drásticas e envolvem custos bastante elevados, por isso VALE A PENA fazer o máximo de esforço para encontrar alguém, ou alguma faculdade, ou algum laboratório, ou aquele amigo NERD (como eu) que tem um microscópio e tentar identificá-lo.
Mas como vou saber qual o meu dino? Vou dar uma dica básica, quase sempre que analisei amostras encontro duas pragas mais frequentes: Amphidinium e Ostreopsis. Existem algumas outras espécies mais incomuns, para fins práticos a minha sugestão é considerar dois grupos: Ostreopsis (que é o cão chupando manga de cabeça para baixo no parquinho do cique du soleil) e os não-Ostreopsis (Amphidinium e outros).
A dica para identificar o ostreopsis é sua movimentação, ele é um ser gordinho, unicelular, com a ponta levemente afinada e movimenta-se em círculos (imagine uma pessoa que pregou o próprio dedão do pé no chão e está tentando fugir), é isso que ele faz.
Não tem microscópio, alguma outra dica? Sim: a maior parte dos dinos tende a ser mais bentônicas e acumular no substrato, o ostreopsis gosta bastante de se proliferar até mesmo nas superfícies dos corais - especialmente os corais moles. Mas isso é só uma dica, não deve ser considerada uma regra.
E vamos ao que interessa, tenho dinos, que medidas devo tomar para combatê-lo?
Encare o problema como um tratamento para câncer. Você deve tomar diversas medidas para inibir o bicho ao mesmo tempo que favorece a proliferação de outros microorganismos até seu aquário maturar e conseguir se defender sozinho... Vou enumerar as diversas medidas que executei, colocarei a seguir minhas observações para o Ostreopsis.
Como sei que as medidas que executei eram eficientes ou não? Análise microscópica diária do substrato e contagem do número de dinos e da sua mobilidade.
Que medidas tomar para combatê-lo?
Aqui cabe comentar que existe um regime de tratamento que tem sido proposto - foi sugerido por Cruz Arias do Elegant Corals. Muita gente tem reportado bons resultados com esse "esquema terapêutico", existem alguns itens dele que eu considero um pouco temerosos (como dosar carbono) e existem medidas que apresentaram ótimo resultado e não são citadas no esquema, por isso não é minha recomendação pessoal. Mas devo reconhecer que Cruz Arias ressaltou como importante uma medida eficiente: o nano bubble scrubbing (que é o pulo-do-gato do seu método na minha opinião, e recomendo fortemente que seja realizado).
Vou enumerar as medidas mais eficientes encontradas em fóruns e em meus testes e análises (se você tem OSTREOPSIS LEIA O TÓPICO SEGUINTE). Recomendo que você tome o máximo de medidas em conjunto (fazer cada medida isoladamente reduz os bichos mas dificilmente elimina):
1 - Elevação do pH: é a medida clássica, inclusive recomendada pelo Sprung em seu livro e comentada pelo Basso. Os dinos tem mais dificuldade em se proliferar em pH acima de 8.5 a 8.6. Mantendo o pH sustentado nesse valor por longo período você reduzirá a proliferação desses bichos. Existem dinos que proliferam em pH baixo? SIM, mas considere como com quase verdade que NÃO (trata-se de descrição em artigo de algumas marés vermelhas com pH baixo e uma espécie muito rara que foi favorecida, o Alexandrium catenella, mas nunca vi esse sujeito em microscopia de nenhum aquário, também nunca encontrei relato disso). Como aumentar o pH: primeiro aumente bem a circulação para boa oxigenação da água, mas isso normalmente não é suficiente. Uma medida é adicionar kalkwasser na água de reposição (vá aumentando aos poucos a dosagem até obter uma saturação tal que com a reposição para a sua região eleve o pH para aproximadamente 8.6). Meça seu pH noturno, pois essa elevação do pH precisa ser sustentada também à noite.
2 - Nano-bubble scrubbing: consiste em bombardear seu sistema com nano/microbolhas durante várias horas seguidas (muita gente fazendo sem danos para quaisquer peixes ou corais). Para tanto, usamos um compressor de ar, preferencialmente que fique fora do recinto para pegar o ar mais puro possível (confesso que o meu não fica), uma tubulação levando o ar até a zona de retorno do aquário e na última liberar o ar através de uma madeira porosa (conseguimos barato no mercado livre - consideram que as bolhas que saem das pedras porosas são muito grandes para esse objetivo). Nos primeiros dias (uns 3 dias) recomendo bombardear o aquário com as microbolhas por até umas 12 horas. Manter o método por umas 8 horas por uns 10 dias. A seguir, deixar umas 2 horas por noite para sempre faz muito bem para o aquário. O princípio é de que as nanobolhas vão quelar seres microscópicos assim como células mortas ou sujeira, que acabam subindo à superfície e caindo na filtragem. Como boa parte dos dinos é bentônica, fica muito na superfície durante o dia aproveitando a luz, e passam para a coluna d´água à noite - fazendo isso você força mais dinos a irem parar o SUMP. Ainda existe o benefício adicional de melhorar trocas gasosas, ajudando na elevação do pH.
3 - Esterilizador UV: utilizado da forma correta ajuda e muito. Para esta finalidade o esterilizador deve ser superdimensionado e deve ser utilizado de forma inteligente em conjunto com a dosagem de bactérias: quando adicionar bactérias deixe o UV desligado por 24h e ligue novamente no próximo dia. Muito importante o controle de fluxo que deve ser lento: aproximadamente 15L/h/Watt (existe um excelente artigo do Marcelo_Miksche no site sobre dimensionamento e fluxo do UV: http://www.brasilreef.com/viewtopic.php?f=38&t=131. A meu ver o uso conjunto da técnica de nanobolhas com UV aumenta as chances de passagem dos dinos pelo sistema.
4 - Redução do fotoperíodo / uso predominante de azuis: alguns dinos fazem uso preferencial de outros tipos de clorofila como a Clorofila-Peridina, que exibe máxima atividade próximo dos 490nm (quanto mais azul/violeta mais você consegue balanço entre iluminar seus corais e reduzir iluminação do dino). O fotoperíodo alguns recomendam reduzir até 4h.
5 - Dosagem de Peróxido / Água oxigenada: a dosagem de peróxido 3 volumes 1mL/40L de aquário/dia, podendo ser em área de grande circulação ou no interior do skimmer já ajudou muitos. No meu caso, não fiquei tão impressionado, mas auxiliou. O princípio é o efeito bactericida do peróxido. Atente para a dosagem pois uso com maior concentração pode danificar animais do reef. Faça uso inteligente: não dose peróxido em conjunto com adição de bactérias.
6 - Medicamentos: DinoX auxilia em várias espécies de dino. Ajudou bastante no meu caso, de maneira sensível e mensurável, quando combatia o Amphidinium. IMPORTANTE: várias pessoas já tentaram (eu inclusive) e não houve nenhum resultado quando utilizado contra Ostreopsis. Consegui comprar pelo Mercado Livre.
7 - Dosagem de bactérias: as bactérias grandes, macrofágicas, podem competir e até se alimentar de dinoflagelados, podendo ser adicionadas para auxiliar no combate, mas atenção, parece uma beleza mas não são 100% autossuficientes para eliminar o problema. Colônias de bactérias com relatos de bons resultados (maioria nunca encontrei por aqui, algumas já encontrei no Mercado Livre - fiz uso da MB7): Live Rock Enhance (ótimos relatos internacionais, quem conseguir importar pra gente vai fazer um grande favor), Microbacter 7, Vibrant, ATM Colony, Dr. Tim Waste Away, Special Blend. Bactérias nitrificantes para ciclagem inicial não mostraram nenhuma melhora (Bioptim, Stability etc).
8 - Borrifar sobre as áreas em que voltam a aparecer dinos, sifonar se necessário: MUITO IMPORTANTE, um método simples que ajuda significativamente no controle dos dinos, pois devolve à coluna d´água podendo voltar ao SUMP, UV, perlon ETC.
9 - Apagão: feito corretamente é muito eficiente. Minha recomendação é deixar o apagão para a tacada final! Aquele momento em que está reduzindo bem a infestação, quando você está quase ganhando a batalha. O apagão consiste em obstruir o aquário inteiro da luz, completamente, inclusive o SUMP, por 72h (manter oxigenação pelo SUMP/Skimmer), deixe as luzes de fora pois fica bem úmido, a ideia de cobrir tudo com cobertas pode fazer com que você perca as luminárias pela umidade (além disso cobertas não bloqueiam totalmente a luz - eu faço com esses forros de gaveta, que são 100% opacos, mas qualquer meio que bloqueie completamente é recomendado).
10 - Aumentar nutrição: aumentar alimentação e reduzir exportação é importante para desfavorecer o predomínio dos dinos. Eles também utilizarão dos alimentos através de sua função heterotrófica, mas somente assim você favorecerá o aumento de competidores. Pessoalmente não recomendo adição de fontes de carbono (nopox, açúcar, vodka, vinagre), embora faça parte do esquema da Elegant Corals, pois há vários relatos de importante piora com essa atitude. Nitrato zero e fosfato zero: nunca mais deixe isso acontecer!
11 - Parar completamente com trocas de água e suplemento de elementos traço: mantenha reposição de Ca-Mg-Reserva, mas deixe os dinos consumirem aquilo que lhes é necessário sem oferecer reposição dos elementos traço. Trocas de água normalmente estimulam sua proliferação. Se necessário sifone, faça retirada do display para o sump passando a água por uma shark bag de 200 micras.
12 - NÃO ADICIONE EQUIPE DE LIMPEZA: não acrescente paguros, turbos ou peixes comedores de algas, pois praticamente todos vão acabar morrendo por efeito das toxinas dos dinos
13 - Se necessário faça Banhos de Água RODI em rochas ou corais muito infestados: pude testar e mesmo observar em microscópio, água deionizada mata os dinos quase instantaneamente (difícil entender como um bicho tão frágil consegue virar uma praga tão devastadora). Cuidado com corais sensíveis (acroporas e euphyllias por exemplo detestam esse procedimento, enquanto os zoanthus são super resistentes e aguentam até uns 3 minutos)
14 - Retire meios que estão servindo de substrato ou esconderijo para os dinos: especialmente macroalgas, mídias filtrantes excessivas, reatores que podem ser provisoriamente desligados. Em minhas análises microscópicas, quando estava quase eliminando o Amphidinium eu o encontrei proliferando livremente no interior da estrutura de minha Chaetomorfa - não preciso dizer que foi direto para o lixo. Além do mais, nesse momento você não quer ninguém tentando consumir todo seu nitrato e fosfato!
O meu problema é Ostreopsis! E agora????
Meu amigo, pense que tem a pior praga do aquarismo! Esse bicho é o cão!
Fique de cima dele e execute com precisão todos os itens acima com exceção de medicamento (DinoX item 6) e do apagão (item 9). Você acabou de perder duas excelentes ferramentas de combate e ganhou uma cepa agressiva, que adora corais e que produz as toxinas mais potentes (mantenha seus peixes bem alimentados, pois na fome vão provar dessa alguinha e o resultado é trágico).
Capricha, e muito, nas nanobolhas e no UV.
Existe um item que pode auxiliar para esta cepa, parece muito estranho mas é exatamente isso: dosar sílica (dessa sílica para gatos brincarem) - isso pode estimular a proliferação de diatomáceas, que vão competir por espaço.
E se nada estiver resolvendo, antes de desistir existe uma possível alternativa bem trabalhosa e radical (a do Leo Cardoso do Reef Show): retirada completa do substrato e troca por um novo (isso é um quase reset). Quando combati o Ostreopsis além dessa atitude ainda retirei TODAS as rochas e fiz um banho de água doce ultra rápido de 4 segundos nas rochas de acroporas e lento de até 3 minutos nas de zoanthus.
Até hoje estou vencendo. Posso dizer que (até este momento, em análises no microscópio) venci o Amphidinium e depois venci o Ostreopsis (só pra esclarecer ambos apareceram no mesmo momento e o segundo só ganhou força cerca de 2 meses depois do primeiro ter sido eliminado).
Quantas dessas atitudes que relatei eu executei? TODAS, em CONJUNTO. Trabai da p !!!
Mas ao menos hoje estou com o reef lindo e com corais e peixes super satisfeitos, orgulhoso de não ter desistido desse hobby fantástico e que amo. Nitrato e fosfato zerados nunca mais!
Espero ter ajudado alguns. Sugestões, críticas e comentários são muito bem-vindos.
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Dinoflagelados - que tal reabrir esta discussão?
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Re: Dinoflagelados - que tal reabrir esta discussão?
Segue o protocolo de Cruz Arias traduzido, como uma alternativa extra no combate:
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