Acroporas ? Corais duros para os «duros» (parte II)
Enviado: 27 Nov 2010, 15:30
Na segunda parte vimos algumas condições ideais que um sistema de recife deverá ter para uma óptima manutenção e crescimento de corais duros, nomeadamente das espécies do género Acropora. Vamos agora abordar a selecção de espécimes, o transporte, a aclimatização, a manutenção, a compatibilidade destes corais com outros seres e a fragmentação.
Selecção de espécimes
As acroporas podem ser encontradas nas mais diversas fases de crescimento, com diferentes tipos de ramificações, variando com a espécie e com as condições do seu meio envolvente. No que respeita í coloração, esta é muito diversificada e podemos encontrar com maior facilidade o castanho (a coloração mais comum), o azul, o creme, o roxo, o verde, o amarelo e o rosa.
Quando pretender adquirir um destes espécimes, tente saber quando é que o coral chegou í loja, procure sinais de regressão do tecido no esqueleto e se existe algum tipo de branqueamento do coral. Geralmente, boas cores e pólipos estendidos são sinais de boa disposição do coral. Se o coral se encontra na loja há duas ou mais semanas e aparenta estar saudável, valerá a pena correr o risco.
Transporte
Se optou pela compra e se vai demorar a chegar a casa com o coral (duas ou mais horas), é preferível solicitar na loja que a base do coral seja presa com elásticos a um pedaço de esferovite, de modo a permanecer a boiar virado ao contrário dentro do saco com água. Este método de flutuação para transporte de corais duros por períodos prolongados tem-se revelado bastante benéfico. A justificação para a utilização deste processo prende-se com o facto de estes corais, quando incomodados, libertarem uma espécie de muco. Flutuando o coral ao contrário, o muco acaba por assentar no fundo do saco, impedindo que o animal sufoque com o seu próprio muco, já que dentro do saco não há movimentação de água.
Aclimatização e acomodação
Quando chegar a casa, é preferível aclimatizar a sua Acropora através do método gota-a-gota. O objectivo é não provocar um choque ao coral devido a parâmetros químicos e temperaturas diferentes daquilo a que ele estava habituado.
Quando colocar o coral no aquário, certifique-se que fica a meio do aquário, ou seja, a meia distância entre o fundo e a superfície da água. O objectivo é aclimatizar o coral í iluminação. Em algumas horas deverá ir subido progressivamente o coral para mais perto da luz. Observe o coral e se este tiver algum muco em cima, agite a sua mão em redor do mesmo, de modo a que a agitação da água remova o muco. Tenha muito cuidado com a colocação do coral, certificando-se de que este permanece estável e que com a corrente da água não cairá do local onde se encontra (ou não lhe cairá qualquer rocha em cima). Tais acontecimentos podem ser bastante dolorosos e motivo de infelicidade para o aquariofilista. Para evitar estas situações poderá prender a base do coral a uma rocha com fio de nylon ou com qualquer tipo de cola apropriada para aquários de recife, como as massas de epoxi, comummente encontradas nas casas especializadas em aquariofilia.
Alguns destes corais trazem pequenos seres invertebrados tais como caranguejos, cracas, sabellas, etc. Não os tente remover, pois são seres inofensivos e poderão mesmo ser benéficos. Estes pequenos caranguejos ajudam a remover detritos que se depositam nas zonas mais internas dos braços do coral.
Assim que o coral se aclimatiza completamente ao sistema, é natural que as pontas dos seus braços ganhem outras cores mais vivas, nomeadamente o azul, o lilás ou o roxo. Uma eventual perda de cor poderá significar que o sistema tem algum défice químico (requerendo, nesse caso, aditivos) ou então que está na altura de verificar se as lâmpadas perderam a intensidade ideal. Algumas acroporas não ganham cor nas pontas, o que é normal e não é motivo de qualquer alarme.
Para que possamos acompanhar o crescimento do coral devemos tirar-lhe fotografias de dois em dois meses, o que nos permitirá verificar se a acropora se encontra em forma. Não fique desanimado se alguns destes corais crescem de forma mais lenta que outros. No seu habitat natural este tipo de ocorrência é vulgar.
Compatibilidade
Mantenha uma vigilância frequente para verificar se existem animais que possam destruir ou tentar comer estes corais. Lapas, algumas espécies de ouriços e estrelas do género Acanthaster têm alguma fama de se alimentarem de acroporas. Observe também os corais que têm tentáculos extensíveis e urticantes, especialmente durante a noite, pois é frequente quando as luzes estão desligadas esses corais lançarem os seus tentáculos e «queimarem» os corais vizinhos. Portanto, tenha em atenção onde irá colocar estes corais.
Os peixes também poderão ser um problema, já que os peixes anjo e os blenídeos, por vezes, poderão também irritar este tipo de coral. Embora não seja muito frequente, alguns espécimes da família dos peixes anjos (Pomacanthidae) revelam algum apetite pelos pólipos e alguns blenídeos (Blenniidae) gostam de «limpar» as algas zooxantelas da superfície dos corais, com os inerentes danos provocados. Existem ainda outros seres no aquário que poderão importunar estes corais, por conseguinte, mantenha os olhos bem abertos e intervenha quando for necessário.
Propagação
Ao fim de alguns anos, se tudo correr bem e providenciar ís suas acroporas estabilidade e as condições ideais, é natural que possua alguma colónias no aquário que se tornaram demasiado grandes, ocupando demasiado espaço e impedindo os outros seres de captarem a iluminação de que necessitam. É nesta altura que partimos para a fragmentação.
Muitos dos corais duros de pequenos pólipos são, hoje em dia, multiplicados via fragmentação. De facto, é actualmente possível povoar um novo recife com pequenos fragmentos de corais provenientes de outro recife, de modo a obter um recife cheio de colónias de corais duros em cerca de um ano ou dois.
Recentemente, algumas desovas de corais foram conseguidas em aquários de recife mais evoluídos, sendo que estes aquariofilistas utilizaram técnicas específicas de indução de desovas com uma estimulação mais natural através da simulação do ambiente de origem destes corais. Mesmo com todo o sucesso que os aquariofilistas avançados têm granjeado, é ainda assim difícil para um iniciado neste tipo de corais ser capaz de multiplicá-los em cativeiro. Felizmente, as técnicas actualmente empregues têm vindo a tornar-se acessíveis para grande parte dos aquariofilistas. A fragmentação surge como uma resposta, permitindo, inclusive, a troca de fragmentos de acroporas entre aquariofilistas, diversificando assim espécies, cores e formatos nos seus aquários.
De uma forma muito resumida e pragmática, podemos descrever aqui uma metodologia de fragmentação de uma acropora:
Todo o processo deverá ser o mais rápido possível. Utilizando luvas de látex, remova o coral de dentro do aquário (se tal for possível) e, utilizando um alicate de corte com pontas o mais finas possível, efectue o corte na base da ramificação que pretende remover. Recoloque o coral originário o mais rapidamente possível no seu local inicial do aquário. Para o novo fragmento, tratando-se de um pedaço de dimensões reduzidas (por exemplo, um pequeno braço do coral), poderá utilizar um frasquinho fino de plástico de florista (que serve para colocar o pé de determinadas flores como orquídeas e rosas), encher de areia fina de coral (tipo Aragamax) e enterrar ligeiramente a base do pequeno fragmento, apenas de modo a que fique firme. Em seguida, deverá colocar o frasco com o fragmento num local do aquário em que permaneça firme e com condições de iluminação e movimentação de água semelhantes í da colónia de origem. Tratando-se de um fragmento já maior e com ramificações, poderá colar a base do mesmo com uma massa ou cola apropriada (geralmente baseada em epoxi) a uma pequena rocha e posteriormente utilizar o procedimento acima descrito.
Como curiosidade, é de notar que o novo fragmento tem geralmente um ritmo de crescimento bastante superior ao da colónia de origem.
Conselhos que deverá ter em conta relativamente í fragmentação de acroporas:
•Seleccione para propagação apenas espécimes maturos e saudáveis;
•Multiplique apenas uma espécie de coral de cada vez para minorar as possibilidades de contaminação através do muco produzido pelos corais cortados;
•Limpe minuciosamente todo o equipamento antes de tratar de outra espécie, caso pretenda fragmentar espécies diferentes;
•Se possível, mantenha os novos fragmentos no mesmo sistema que as colónias que lhes deram origem, de modo a reduzir o stress e acelerar a recuperação;
•Pesquise todos os aspectos relacionados com a fragmentação de corais, principalmente aqueles relacionados com a espécie que pretende propagar. Depois planeie minuciosamente todos os passos;
•Mantenha um registo de todos os processos de fragmentação que efectuou, nomeadamente identificando a data de fragmentação de cada indivíduo, tamanho, fotos, etc. Mais tarde verá a utilidade desta informação;
•Partilhe as pesquisas e resultados com outros aquariofilistas.
A fragmentação de corais não é um tema que se esgote em tão poucas linhas. Como tal, pretendemos aqui dar apenas um vislumbre do tema e deixar uma abordagem mais profunda para futuras edições da bioaquaria.
Para finalizar, não se esqueça que deverá efectuar testes frequentes í água do seu aquário, nomeadamente: cálcio, alcalinidade, pH e nitratos. Ajuste e corrija sempre que necessário.
Boa sorte e os maiores sucessos com as suas acroporas!
Artigo de João Cotter, publicado com autorizacao
http://bioaquaria.pt
Selecção de espécimes
As acroporas podem ser encontradas nas mais diversas fases de crescimento, com diferentes tipos de ramificações, variando com a espécie e com as condições do seu meio envolvente. No que respeita í coloração, esta é muito diversificada e podemos encontrar com maior facilidade o castanho (a coloração mais comum), o azul, o creme, o roxo, o verde, o amarelo e o rosa.
Quando pretender adquirir um destes espécimes, tente saber quando é que o coral chegou í loja, procure sinais de regressão do tecido no esqueleto e se existe algum tipo de branqueamento do coral. Geralmente, boas cores e pólipos estendidos são sinais de boa disposição do coral. Se o coral se encontra na loja há duas ou mais semanas e aparenta estar saudável, valerá a pena correr o risco.
Transporte
Se optou pela compra e se vai demorar a chegar a casa com o coral (duas ou mais horas), é preferível solicitar na loja que a base do coral seja presa com elásticos a um pedaço de esferovite, de modo a permanecer a boiar virado ao contrário dentro do saco com água. Este método de flutuação para transporte de corais duros por períodos prolongados tem-se revelado bastante benéfico. A justificação para a utilização deste processo prende-se com o facto de estes corais, quando incomodados, libertarem uma espécie de muco. Flutuando o coral ao contrário, o muco acaba por assentar no fundo do saco, impedindo que o animal sufoque com o seu próprio muco, já que dentro do saco não há movimentação de água.
Aclimatização e acomodação
Quando chegar a casa, é preferível aclimatizar a sua Acropora através do método gota-a-gota. O objectivo é não provocar um choque ao coral devido a parâmetros químicos e temperaturas diferentes daquilo a que ele estava habituado.
Quando colocar o coral no aquário, certifique-se que fica a meio do aquário, ou seja, a meia distância entre o fundo e a superfície da água. O objectivo é aclimatizar o coral í iluminação. Em algumas horas deverá ir subido progressivamente o coral para mais perto da luz. Observe o coral e se este tiver algum muco em cima, agite a sua mão em redor do mesmo, de modo a que a agitação da água remova o muco. Tenha muito cuidado com a colocação do coral, certificando-se de que este permanece estável e que com a corrente da água não cairá do local onde se encontra (ou não lhe cairá qualquer rocha em cima). Tais acontecimentos podem ser bastante dolorosos e motivo de infelicidade para o aquariofilista. Para evitar estas situações poderá prender a base do coral a uma rocha com fio de nylon ou com qualquer tipo de cola apropriada para aquários de recife, como as massas de epoxi, comummente encontradas nas casas especializadas em aquariofilia.
Alguns destes corais trazem pequenos seres invertebrados tais como caranguejos, cracas, sabellas, etc. Não os tente remover, pois são seres inofensivos e poderão mesmo ser benéficos. Estes pequenos caranguejos ajudam a remover detritos que se depositam nas zonas mais internas dos braços do coral.
Assim que o coral se aclimatiza completamente ao sistema, é natural que as pontas dos seus braços ganhem outras cores mais vivas, nomeadamente o azul, o lilás ou o roxo. Uma eventual perda de cor poderá significar que o sistema tem algum défice químico (requerendo, nesse caso, aditivos) ou então que está na altura de verificar se as lâmpadas perderam a intensidade ideal. Algumas acroporas não ganham cor nas pontas, o que é normal e não é motivo de qualquer alarme.
Para que possamos acompanhar o crescimento do coral devemos tirar-lhe fotografias de dois em dois meses, o que nos permitirá verificar se a acropora se encontra em forma. Não fique desanimado se alguns destes corais crescem de forma mais lenta que outros. No seu habitat natural este tipo de ocorrência é vulgar.
Compatibilidade
Mantenha uma vigilância frequente para verificar se existem animais que possam destruir ou tentar comer estes corais. Lapas, algumas espécies de ouriços e estrelas do género Acanthaster têm alguma fama de se alimentarem de acroporas. Observe também os corais que têm tentáculos extensíveis e urticantes, especialmente durante a noite, pois é frequente quando as luzes estão desligadas esses corais lançarem os seus tentáculos e «queimarem» os corais vizinhos. Portanto, tenha em atenção onde irá colocar estes corais.
Os peixes também poderão ser um problema, já que os peixes anjo e os blenídeos, por vezes, poderão também irritar este tipo de coral. Embora não seja muito frequente, alguns espécimes da família dos peixes anjos (Pomacanthidae) revelam algum apetite pelos pólipos e alguns blenídeos (Blenniidae) gostam de «limpar» as algas zooxantelas da superfície dos corais, com os inerentes danos provocados. Existem ainda outros seres no aquário que poderão importunar estes corais, por conseguinte, mantenha os olhos bem abertos e intervenha quando for necessário.
Propagação
Ao fim de alguns anos, se tudo correr bem e providenciar ís suas acroporas estabilidade e as condições ideais, é natural que possua alguma colónias no aquário que se tornaram demasiado grandes, ocupando demasiado espaço e impedindo os outros seres de captarem a iluminação de que necessitam. É nesta altura que partimos para a fragmentação.
Muitos dos corais duros de pequenos pólipos são, hoje em dia, multiplicados via fragmentação. De facto, é actualmente possível povoar um novo recife com pequenos fragmentos de corais provenientes de outro recife, de modo a obter um recife cheio de colónias de corais duros em cerca de um ano ou dois.
Recentemente, algumas desovas de corais foram conseguidas em aquários de recife mais evoluídos, sendo que estes aquariofilistas utilizaram técnicas específicas de indução de desovas com uma estimulação mais natural através da simulação do ambiente de origem destes corais. Mesmo com todo o sucesso que os aquariofilistas avançados têm granjeado, é ainda assim difícil para um iniciado neste tipo de corais ser capaz de multiplicá-los em cativeiro. Felizmente, as técnicas actualmente empregues têm vindo a tornar-se acessíveis para grande parte dos aquariofilistas. A fragmentação surge como uma resposta, permitindo, inclusive, a troca de fragmentos de acroporas entre aquariofilistas, diversificando assim espécies, cores e formatos nos seus aquários.
De uma forma muito resumida e pragmática, podemos descrever aqui uma metodologia de fragmentação de uma acropora:
Todo o processo deverá ser o mais rápido possível. Utilizando luvas de látex, remova o coral de dentro do aquário (se tal for possível) e, utilizando um alicate de corte com pontas o mais finas possível, efectue o corte na base da ramificação que pretende remover. Recoloque o coral originário o mais rapidamente possível no seu local inicial do aquário. Para o novo fragmento, tratando-se de um pedaço de dimensões reduzidas (por exemplo, um pequeno braço do coral), poderá utilizar um frasquinho fino de plástico de florista (que serve para colocar o pé de determinadas flores como orquídeas e rosas), encher de areia fina de coral (tipo Aragamax) e enterrar ligeiramente a base do pequeno fragmento, apenas de modo a que fique firme. Em seguida, deverá colocar o frasco com o fragmento num local do aquário em que permaneça firme e com condições de iluminação e movimentação de água semelhantes í da colónia de origem. Tratando-se de um fragmento já maior e com ramificações, poderá colar a base do mesmo com uma massa ou cola apropriada (geralmente baseada em epoxi) a uma pequena rocha e posteriormente utilizar o procedimento acima descrito.
Como curiosidade, é de notar que o novo fragmento tem geralmente um ritmo de crescimento bastante superior ao da colónia de origem.
Conselhos que deverá ter em conta relativamente í fragmentação de acroporas:
•Seleccione para propagação apenas espécimes maturos e saudáveis;
•Multiplique apenas uma espécie de coral de cada vez para minorar as possibilidades de contaminação através do muco produzido pelos corais cortados;
•Limpe minuciosamente todo o equipamento antes de tratar de outra espécie, caso pretenda fragmentar espécies diferentes;
•Se possível, mantenha os novos fragmentos no mesmo sistema que as colónias que lhes deram origem, de modo a reduzir o stress e acelerar a recuperação;
•Pesquise todos os aspectos relacionados com a fragmentação de corais, principalmente aqueles relacionados com a espécie que pretende propagar. Depois planeie minuciosamente todos os passos;
•Mantenha um registo de todos os processos de fragmentação que efectuou, nomeadamente identificando a data de fragmentação de cada indivíduo, tamanho, fotos, etc. Mais tarde verá a utilidade desta informação;
•Partilhe as pesquisas e resultados com outros aquariofilistas.
A fragmentação de corais não é um tema que se esgote em tão poucas linhas. Como tal, pretendemos aqui dar apenas um vislumbre do tema e deixar uma abordagem mais profunda para futuras edições da bioaquaria.
Para finalizar, não se esqueça que deverá efectuar testes frequentes í água do seu aquário, nomeadamente: cálcio, alcalinidade, pH e nitratos. Ajuste e corrija sempre que necessário.
Boa sorte e os maiores sucessos com as suas acroporas!
Artigo de João Cotter, publicado com autorizacao
http://bioaquaria.pt